O Forte.
Era uma manhã de chuva. Saí num tempo nublado, caminhei pelas calçadas com buracos e cheia de poças d'àgua. Não usava guarda-chuva, não me protegia de raios ou trovões. Cumprimentava as pessoas agasalhadas que conhecia e observava outros rostos nunca visto, tentando adivinhar seus pensamentos. Alguns resmungavam contra São Pedro, outros falavam ao telefone e também havia aqueles que dialogavam consigo. As pessoas são tão iguais e diferentes ao mesmo tempo!
Eu estava cansada de me proteger tanto. Me proteger de tanta gente, do sol, da noite, da solidão, dos raios que destróem, das vida que um dia passa. Me deu um sono tão grande de todas essas coisas. Por causa de uma ou outra tristeza, criei uma fortaleza ao meu redor, um forte de tamanha grandeza, que mesmo ao aprendizado não dei chance. Lembra quando dizem que os erros são motivos suficientes para irmos mais à frente? Eu não lembrava. Meus amigos me abanavam através dos muros do meu forte e eu os espiava de longe, sequer os atendia. Eu viva em um forte que me deixava cada vez mais fraca.
Daí a chuva habitou meu lugar, com uma goteira sem cessar. Era meu choro que queria sair e eu não deixava, pois evitava os sentimentos. Era uma espécie de eremita do coração.
E a chuva lavou a minha alma, fazendo os medos desaguarem em qualquer rio da vida. Observei tudo de novo, com olhos espertos de quem deseja correr, pois perdi tanto tempo. Após a chuva o sol chega. E talvez em algum lugar haja um arco-íris, com o maior pote de ouro que já foi visto: o amor.
E é deste amor que farei a maior riqueza que um dia meu forte desperdiçou.
Nenhum comentário:
Postar um comentário