A RAPOSA E A VINHA

Um sitio, com muitos pomares, gramados e jardins bem cuidados, arvores sombreando os caminhos de areia amarelada, que cortavam a propriedade, era circundado por um bosque, onde havia uma raposa.
Tudo no sitio era formoso para ela; para seus olhos, todavia, nada se comparava a uma vinha, plantada do lado esquerdo da casa.
Por muitas noites a raposa rodeou a vinha, procurando uma maneira de transpor a cerca de bambus cortados ao meio e aparelhados, lado a lado, como se fossem soldados.
Saltar por sobre a cerca era tão impossível quanto resistir àqueles cachos de uva. A única chance de entrar era através de uma pequena brecha, mas, para isso, duas coisas eram imprescindíveis, perder peso para passar pelo buraco, e esperar que o dono do sítio se ausentasse.
Dessa forma, a raposa jejuou, emagreceu e, quando o proprietário viajou, passou pela brecha e alcançou vinha. Lá dentro, saltava abocanhando de uma só vez os mais graúdos cachos, sem mesmo se importar com os que caíam ao chão.
Enfastiada, dormia e, ao acordar, reiniciava a comilança. Assim se passaram os dias. Quando a raposa já nem sequer conseguia se mover de tão gorda, lembrou que o dono da vinha logo retornaria, e arrastando-se com dificuldade, chegou à brecha por onde entrara.
Foi inútil. De tão gorda, era impossível passar. Desesperada, precisou jejuar muito mais do que antes. Passados alguns dias, fraca, cansada, abatida e magra, pode a raposa passar pela brecha.
Caminhando lentamente para longe, virando-se para olhar a vinha, pensou a raposa: “Nunca mais me seduzirás, pois do jeito como entrei, saí”.
Assim também é a vida do homem. Ao nascer, tem seus braços abertos, como a dizer “todo o mundo é meu”; ao partir, no entanto, leva os braços cruzados ao peito, como se dissesse “conforme vim, estou indo”.
A ansiedade pelos bens materiais é um laço mortal. O amor às riquezas é, conforme a bíblia, a raiz de todos os males. A prosperidade é benção de Deus, em resposta aos que nEle crêem e sacrificam suas ofertas e dízimos.
Vem junto com a sabedoria e a saúde, trazendo paz àquele que a recebe e não coloca o coração no que possui; antes, seu coração está plenamente em Deus, sabendo que tudo vem da Sua poderosa mão, e não da força do seu próprio braço.
O ganancioso credita a si mesmo a razão do seu sucesso; vive com usura e sequer aproveita o que tem. Temendo vir a faltar, entesoura tudo quanto pode, renunciando até a pequenos desejos, fugindo de ajudar a quem precisa, desconfiando da própria sombra, vivendo com medo de ser roubado.
Quantos, levados pela correnteza da ganância, morreram deixando para outros colherem os frutos do seu penoso trabalho?
Seduzidos por falsas riquezas, ajuntaram tesouros na Terra, porém nada nos Céus.
Só há um, e apenas um tesouro real neste mundo: nosso Deus e Pai. Ele é o tesouro certo onde devemos guardar o nosso coração.