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sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

NATALIDADE DO SENHOR

A intencionalidade pedagógica de Lucas pode ser percebida: Maria, uma jovem mulher pobre, sem poder algum, é escolhida para gerar em seu ventre aquele que seria o Salvador (soter) de seu povo. Mashiah, Christós, Kyrios (Messias, Cristo, Senhor), títulos que identificam uma grandeza superior, acima de todos os poderes deste mundo. Uma força irrompendo, no entanto, sem explosões, sem abalos sísmicos, sem tempestades, sem furacões ou enchentes, como estas calamidades que destruíram Sta.Catarina e agora arrebentam com Minas Gerais. Ninguém reconheceria um personagem com tais títulos num menino depositado no berço improvisado no cocho das alimarias. E uma noite comum, de céu limpo e iluminado por estrelas, testemunha a Graça que traz consigo o Deus Salvador. Nada demais, nenhum fenômeno, apenas o que se vê no cotidiano de todos os povos e nações do mundo. É a ternura de Deus iluminada nos cuidados da mãe, Maria, que reproduz o sentido maternal do Criador: nasceu Jesus!

O símbolo deste poema é a “luz” dentro da longa noite escura dos tempos de opressão. A Luz traz vida, a Luz traz a salvação, por isso a noite que antecede à chegada do menino Salvador é tão formosa. É dentro dela que se ouve o imperativo: fiat lux,“haja luz”! Por outro lado, a Luz é o grande sinal de libertação que o profeta Isaías propõe ao povo (Is 9,1-3; 5-6 ), em nome de Deus. "Um dia desses nasceu Jesus /Nasceu pobre miserável, entre os animais/Não esses animais bem tratados/Entre os vira-latas, ratos e baratas" (André Aimberê).

Somos iluminados, podemos vislumbrar a dignidade ferida dos pobres, das “viúvas” e “órfãos”, dos massacrados ansiosos por um naco de carne-seca e um pouco de feijão-de-corda, por causa do dom da Graça e da Misericórdia de Deus. Deus se entrega aos que ama como um menininho nordestino, ou um guri do Sul, enquanto sua Luz se derrama sobre as escuridões de opressão, das desigualdades, dos preconceitos, das pressões do determinismo histórico imposto aos fracos (a lei do mais forte...).

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