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terça-feira, 26 de junho de 2007

Antes do Dia Partir...

O que valeu a pena hoje?
Sempre tem alguma coisa. Um telefonema. Um filme...
Paulo Mendes Campos, em uma de suas crônicas reunidas no livro " O Amor
Acaba ", diz que devemos nos empenhar em não deixar o dia partir
inutilmente.

Eu tenho, há anos, isso como lema. É pieguice, mas antes de dormir,
quando
o
dia que passou está dando o prefixo e saindo do ar, eu penso: o que valeu
a
pena hoje? Sempre tem alguma coisa. Uma proposta de trabalho. Um
telefonema.
Um filme. Um corte de cabelo que deu certo. Até uma briga pode ter sido
útil, caso tenha iluminado o que andava escuro dentro da gente.
Já para algumas pessoas, ganhar o dia é ganhar mesmo: ganhar um aumento,
ganhar na loteria, ganhar um pedido de casamento, ganhar uma licitação,
ganhar uma partida. Mas para quem valoriza apenas as megavitórias, sobram
centenas de outros dias em que, aparentemente, nada acontece, e
geralmente
são essas pessoas que vivem dizendo que a vida não é boa, e seguem
cultivando sua angústia existencial com carinho e uísque, mesmo já tendo
seu
superapartamento, sua bela esposa, seu carro do ano e um salário
aditivado.
Nas últimas semanas, meus dias foram salvos por detalhes.
Uma segunda-feira valeu por um programa de rádio que fez um tributo aos
Beatles e que me arrepiou, me transportou para uma época legal da vida,
me
fez querer dividir aquele momento com pessoas que são importantes pra
mim.
Na
terça, meu dia não foi em vão porque uma pessoa que amo muito recebeu um
diagnóstico positivo de uma doença que poderia ser mais séria. Na quarta,
o
dia foi
ganho porque o aluno de uma escola me pediu para tirar uma foto com ele.
Na quinta, uma amiga que eu não via há meses ligou me convidando para
almoçar.
Na sexta, o dia não partiu inutilmente, só por causa de um
cachorro-quente.

E assim correm os dias, presenteando a gente com uma música, um
crepúsculo,
um instante especial que acaba compensando 24 horas banais.
Claro que tem dias que não servem pra nada, dias em que ninguém nos
surpreende, o trabalho não rende e as horas se arrastam melancólicas, sem
falar naqueles dias em
que tudo dá errado: batemos o carro, perdemos um cliente e o encontro da
noite é desmarcado. Pois estou pra dizer que até a tristeza pode tornar
um
dia especial, só que não ficaremos sabendo disso na hora, e sim lá
adiante,
naquele lugar chamado futuro, onde tudo se justifica. É muita
condescendência com o cotidiano, eu sei, mas não deixar o dia de hoje
partir
inutilmente é o único meio de a gente aguardar com entusiasmo o dia de
amanhã...

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