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quinta-feira, 28 de junho de 2007

CONFUNDIDO MINISTERIO COM PALCO

Imagine o que aconteceria se o apóstolo Paulo considerasse que parte – apenas parte – de seu “sucesso” ministerial fosse graças a sua oratória. Já pensou nos conselhos que daria a Timóteo e Tito, recomendando-lhes que desenvolvessem “uma boa lábia”?

Imagine os resultados se Pedro comentasse com seus companheiros que, modéstia à parte, sua pregação no dia de Pentecostes “foi mesmo um marco na história do evangelismo”. Daria para imaginar Pedro negando-se a seguir para Antioquia por conta de sua agenda atarefada pelos muitos convites que teria de atender como evangelista?

Imagine o que seria se Davi se vangloriasse de seu desempenho como músico e poeta. Passaria pela sua cabeça esta cena: Davi pedindo sua harpa para curar seu primeiro filho com Bate-Seba, afirmando que sua música era “tiro-e-queda” e, já que ela havia sido capaz de acalmar Saul, também curaria seu filho?

É verdade que eles foram homens como nós, sujeitos às mesmas paixões e tentações. É até razoável imaginar que eles devam mesmo ter tido seus momentos em que “se acharam” mais que eram. Não pensar assim nos leva a tê-los como super-homens, e isso não nos ajuda em nada. Eles foram pessoas de carne e osso, como eu e você.

Mas tenho para mim que eles se resolveram bem. Eles, cada qual a seu modo, foram trabalhados por Deus, seja por espinhos na carne, seja por galos cantando, seja por filhos rebeldes. Se alguma vez tentaram chamar para si o comando, foram confrontados pelo dono da obra.

Agora, eu o convido a dar uma passeio pelos nossos dias. A cada região para onde sigamos, rapidamente saberemos quem é o pastor da moda, qual é a igreja da moda e qual é o grupo musical que “é massa”, que arrasta uma pequena multidão por onde vá se apresentar. E entenda-se: pastor bom é pastor que prega bem, não aquele que cuida de almas; igreja da moda é igreja grande, com uma programação bem legal, não uma igreja que necessariamente viva a Cristo; e o tal grupo musical é um bom “contratipo gospel” das bandas que tocam nas rádios, pouco importa a vida que tenham.

São ministérios? Sim, são. Sérios? Podem ser, dependendo da seriedade dos ministros. Mas são ministérios que estão sob os holofotes.

Ah... e onde estão os ministérios de visitação aos doentes, os de oração, os de

serviço, os de cuidado pastoral? Estão onde sempre estiveram – no coração de seus ministros e, via de regra, longe da vista do público, longe dos holofotes.

Mas qual deles está mais perto do coração de Deus?

Eu já aprendi — creia-me, às duras penas — que Deus não tem ministérios preferenciais. São todos necessários, e Ele os distribui como quer, a quem quer, da forma que deseja e na hora em que deseja. E também aprendi — mais às duras penas ainda — que Deus não está “nem aí” para os ministérios, mas está “todo aqui” para com o coração do ministro. Deus relaciona-se conosco, não com nossos ministérios, afinal, venhamos e convenhamos, Ele nem precisaria de nós para fazer o que deseja. Se nos usa é porque investe em nós, seus filhos, sua família.

E quando falo sobre “duras penas” é porque justamente meu ministério sempre foi um desses que chamo de “ministérios de palco”. Desde que me “conheço por gente” estou envolvido com música, com letras de música, com o uso da palavra, seja escrita, seja falada, seja cantada. É assim que Deus me usa para falar de Suas coisas.

Costumo dizer que os “ministérios de palco” trazem, a quem com eles se envolve, um desafio sempre presente, grande e constante: o de separar o ministério do palco, embora ele aconteça justamente lá, no palco.

É de um palco que o pastor prega, é de um palco que alguém canta e toca. E vale lembrar que o palco não é nada. O que o faz maior ou melhor não é seu tamanho, sua altura, sua acústica ou a qualidade do microfone que lhe dão. Pouco importa se é um palco de verdade ou um CD gravado, um espaço na Internet, um livro publicado, ou algum outro tipo de “palanque”. O que lhe dá importância e peso é a arena – o público que se reúne em torno dele.

Alguma igreja tem batalhões de jovens querendo se envolver no ministério de oração? Dezenas de pessoas dispostas a visitar doentes no hospital? Muitas pessoas dispostas a fazer parte da escala de serviço, que inclui varrer chão, lavar louça, fazer café, carregar cadeiras? Gostaria de conhecer uma...

Mas sou capaz de adivinhar que sua igreja tem um verdadeiro batalhão de pessoas querendo se envolver com o ministério de louvor (leia-se, querendo tocar ou cantar em uma das bandas). Acertei? É mesmo?

Palco. Arena. Público. Estar em evidência. Ser admirado. Dar um show. Mostrar capacidade.

Quem não quer?

Deus não quer!

Ele quer que o coração de quem está no palco seja o mesmo de quem chega duas horas antes de todos para arrumar sozinho as cadeiras. Quer o mesmo coração de quem abraça um mendigo para lhe transmitir carinho da parte de Deus.

Este é o desafio. Estar no palco como quem faz uma visita solitária no hospital, onde, por vezes, só Deus é testemunha. Pois Deus é o único público que realmente importa agradar. Estar no palco como quem está lá com o salão vazio, sem arena humana, mas com a presença do “público de um”. Com o devido e desejado endosso divino.

Quem canta bem ouve elogios do público? Ouve. Quem prega ouve comentários positivos das pessoas de como sua mensagem foi eficaz? Ouve. Quem toca e canta bem é chamado para gravar um CD? É, mais cedo ou mais tarde. Esses são os frutos do palco. São bons. São deliciosos! Mas duram pouco, muito pouco. E costumam não vir, quando você os procura (e Deus sempre tem algo que ver com isso).

Entretanto, quem toca e canta bem, ou quem prega bem, está no palco, mas com o coração aos pés da cruz, e ouve elogios de Deus. Segue ouvindo elogios e comentários do público, é certo, mas aprende a devolvê-los a quem pertencem de direito: a Deus — o dono da obra. E o Senhor administra os frutos do ministério, dando-nos a conhecer, de vez em quando, algo do que anda fazendo por intermédio de nós. É bom, é delicioso, muito mais que os frutos do palco. Os frutos do ministério são eternos.

E você me pergunta se aprendi a fazer isso? Embora a resposta seja afirmativa na teoria, na prática, sigo tentando, praticando. É duro. É difícil. Creio que não é algo como um obstáculo que se vence e jamais o vemos. Creio que é vencer o de hoje, pois os de amanhã estão logo à frente, passada aquela curva... basta um pouco de distração e...

Quem ama o palco e lhe dá o nome de ministério está brincando com fogo. Na melhor das hipóteses, fará isso por suas próprias forças. E, cedo ou tarde, experimentará o peso da mão do dono dos ministérios.

Mas quem de fato ama a Deus e dele recebe um ministério, seja ele de palco seja dos bastidores (pois pouco importa), segue na maravilhosa e eterna estrada por onde caminha quem agrada a Deus e é usado por Ele.

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